sábado, 15 de agosto de 2009

A VOLTA DE ALEX DIAS RIBEIRO: RACE REPORT*

Depois de notíciarmos que Alex Dias Ribeiro correria na etapa de La Plata, o mesmo fez um lindo relato da corrida, que foi publicado por Flávio Gomes em seu blog:

* Por Alex Dias Ribeiro:

Depois de 17 anos sem acelerar um carro de corrida recebi com surpresa o convite de Beto Monteiro. Pedi um tempo para conversar com Deus. Queria saber se isso vinha dele ou não. Quando tive certeza, parti para a ação. Tinha apenas sete dias para adquirir alguma forma física e técnica. Foram cinco dias de academia e dois correndo de kart com a turma da Aseka e o Kilha para testar os reflexos e capacidade de concentração. Ganhei as duas corridas de kart. Consegui tirar uma carteira de piloto por telefone e um HANS emprestado no último dia. Cheguei à Argentina com a convicção de que havia ganho mais um presente de Deus.

A recepção

Fomos muito bem recebidos no aeroporto internacional de Buenos Aires pelo Marcos Di Palma, o piloto mais popular e bem pago da Argentina. Ele veio nos buscar em seu avião particular e nos levou ao Aeropark no centro da cidade. Foi o cartão de visita do tratamento VIP que Beto, Roberval Andrade e eu recebemos dos argentinos no fim de semana inteiro. A rivalidade que temos com “los hermanos” no futebol não existe no automobilismo.

O carro



O carro era um foguete! O motorzão tinha um berro de estourar os tímpanos e acelerava uma barbaridade. Chegávamos ao fim da reta a 255 km/h e entrávamos num curvão de alta velocidade daqueles banidos da Fórmula 1 em nome da segurança. Era uma ferradura de raio muuuuito longo.

“El curvón” parecia não ter fim, apesar de o atravessarmos a mais 200 por hora, toureando 350 cavalos e 1.400 quilos de carro pulando que nem boi de rodeio chicoteado pelas ondulações da pista, por uma força centrífuga descomunal e uma reação centrípeda animal produzida pelos pneus slicks, tentando agarrar-se ao asfalto com garras de leopardo enquanto eu brigava freneticamente com o pesado volante para manter a besta fera na trajetória.

Dentro dessa “muy nerviosa viatura” eu travava outra luta com meu cérebro ditando ordens ao pé direito: Pise fundo! Freie mais tarde! Acelere mais cedo! Seja macho! Do outro lado, os músculos do pescoço, braços e corpo inteiro protestavam veementemente apoiados pelo instinto de preservação.

Por todo o traçado o filme passava tão acelerado que minha mente mal dava conta de processar tantas informações e tomar tantas decisões em frações de segundo. Adrenalinado ao máximo, exigi tanto de mim mesmo que parei no box depois de uma hora de treino com a sensação de que os dois olhos iam pular fora das cavidades oculares. O macacão estava encharcado de suor e uma fumaça de vapor saía de dentro do capacete em contato com o ar frio do inverno quando o saquei da cabeça.


A corrida



Apesar de todo o esforço, fui 2 segundos mais lento que os pilotos de ponta e 15º colocado entre os aposentados, usando pneus velhos. Mas a ordem de largada para minha bateria foi a de chegada de Roberval na anterior. Meu plano era ganhar umas seis ou sete posições. Mas os 33 colegas aposentados largaram como um bando de velhos tarados querendo ganhar a corrida na primeira volta. Resultado: voaram portas, para-choques e carros para todos os lados na segunda curva.

Em vez de ganhar, perdi meia dúzia de posições. Milagrosamente, saí do meio da confusão com meu carro inteiro. Duas voltas mais tarde o Safety Car entrou na pista quando dois carros bateram de frente e espalharam um montão de destroços pela pista. Os dinossauros aprontaram tanto que terminei na mesma posição que larguei: 25º lugar…

Mas cheguei até o fim, feliz da vida por ter escapado inteiro dessa corrida muito punk!

As lições

- Com mais músculos, treinos e um jogo de pneus novos eu poderia andar bem melhor. Mas o sucesso dessa experiência não é medido em performance. A verdade é que o desafio foi maior que minhas forças físicas e capacidade técnica. Levar uma máquina tão rápida até a linha de chegada já foi uma grande superação de minhas limitações atuais. Alinhar para a largada de uma corrida tão importante sem ter que correr atrás de patrocinadores, comprar um carro, montar uma equipe e tudo que isso implica, também foi algo muito além de minhas possibilidades.

- A maneira como tudo aconteceu me dá a certeza de que o Homem lá em cima orquestrou esse fim de semana como laboratório para testar na prática os princípios de superação que ele está me ensinando. E o maior deles é abrir mão do controle do carro de minha vida para que Ele seja o piloto.

- Além de bom piloto, Ele me ama tanto que me deu de presente um fim de semana fazendo o que gosto de fazer e a alegria de me divertir como nunca com a aventura, o fluxo da adrenalina, o desafio, o cheiro da gasolina e borracha frita no asfalto. Com meus colegas de equipe, e Marquito Di Palma, uma figuraça! E também com a turma de Atletas de Cristo da Argentina, que compareceu em peso para dar uma força.

- Tive a oportunidade de sentir de perto os dramas que os atletas atuais estão vivendo dentro e fora das pistas em suas batalhas entre o bem e o mal. Isso me ajuda a entendê-los e apoiá-los melhor.

- Pude compreender melhor os papéis que representamos e as identidades que assumimos nas diferentes etapas da corrida da vida e constatar que o autor do livro da história que Ele está escrevendo através de minha existência sabe o que está fazendo. E tudo isso só aumenta a certeza de que ele me ama e é muito bom em tudo que faz!

2 comentários:

Igor * @fizomeu disse...

o relato de um apaixonado pela velocidade!!!

Marcos - Blog da GGOO disse...

A vida é cheia de surpresas mesmo, principalmente pra quem é desse ramo.
É pior que uma droga, pq além de viciar, não tem terapia que cure!!!