segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

PILOTOS: GILLES VILLENEUVE

Canadense, nascido em 18 de janeiro de 1950, falecido em Zolder, em 8 de maio de 1982. Competiu em 67 grandes premios entre 1977 a 1982. Tem 6 vitórias, 2 pole positions, 7 voltas mais rápidas e fez 107 pontos na carreira.

Ele tinha uma frase maravilhosa. Cada vez que Gilles tomava o volante de sua Ferrari, deixava Joanne, sua mulher, com as seguintes palavras: "Espere por mim, não vou demorar". E mantinha a palavra, ele que hoje é considerado o piloto mais rápido da história da Fórmula 1.

Em 8 de maio de 1982, em Zolder, Joanne não estava lá. Estava em Mônaco, cuidando dos dois filhos, Melaine e Jacques. Gilles tinha o rosto fechado, o que era raro acontecer. No Grande Premio anterior, em Ímola, seu companheiro de equipe, Didier Pironi, havia lhe roubado a vitória, surpreendendo-o na última volta. Gilles estava desconfiado. As duas Ferraris estavam tão na frente da corrida que, na metade do percurso, Enzo Ferrari os intimou a aliviar o pé. Então Gilles deixou Didier se aproximar e Pironi não cumpriu o acordo que garantiria a vitória para Villeneuve, ultrapassando-o na última volta.

Quinze dias depois, ele não perdoou a ofensa. Esperou em vão que Enzo Ferrari repreendesse Pironi. Mas o Commendatore, sem dúvida enfraquecido pela idade, nada disse. Gilles se sente duplamente traído. Em 1979, ele tinha obedecido quando Enzo Ferrari lhe havia pedido para ajudar Scheckter a conquistar o título, já que ele era mais rápido que Jody. Em seguida, foi ele quem assegurou o desenvolvimento do V6 turbo Ferrari em 1980 e 1981, duas temporadas sacrificadas pela Scuderia para preparar o futuro. Em 19 Grandes Premios depois do início de sya coabitação em 1981, Didier Pironi só o tinha ultrapassado cinco vezes no grid de largada. E, em 1982, o V6 Ferrari enfim parece pronto. Assim, o título lhe parecia prometido.

Porém, quando Gilles toma a pista em Zolder para fazer as últimas voltas de treino, Pironi está a sua frente na contagem de tempo. Gilles não consegue batê-lo. O final dos treinos está próximo. Seus pneus de classificação estão moles demais para que ele possa tentar outra volta rápida. Ele deve então voltar aos boxes. No caminho, passa o March de Mass, que também anda em velocidade reduzida. A sabedoria dizia para Gilles aliviar o pé e seguir atrás de Mass, já que ele nada ganharia ao ultrapassá-lo. Seria a cólera por não ter conseguido superar Pironi no grid que o teria incitado a ultrapassar o piloto alemão? Os dois homens não se compreendiam. A Ferrari bate no March. Gilles é ejetado. E não sobrevive aos ferimentos.

Seus resultados magros não dizem quem foi Gilles Villeneuve. Ele falava baixo, tinha um olhar claro, um rosto juvenil. Como tinha aprendido a correr em ski-doos, scooters de neve que deslizavam como o vento sobre os lagos gelados do Canadá, ele achava que todas as máquinas motorizadas eram pilotadas do mesmo modo: com as nádegas. Para ele, era com essa parte do corpo que uma pessoa sentada sentia melhor as perdas de aderência. A teoria era original. Ele foi muito bem-sucedido com ela.

Os outros pilotos dariam tudo para saber como ele fazia para trazer de volta à pista uma Ferrari desestabilizada com a vibração externa numa curva de velocidade. Não era sempre que ele conseguia, mas o fazia na maioria das vezes. De fato, nunca um piloto quebrou tantas Ferraris. Mas seus apoiadores perdoavam tudo, pois ele ousava tudo. E Enzo Ferrari ria. Gilles foi o sol de seus últimos dias: o chefe havia reencontrado (Tazio) Nuvolari, o piloto que o havia encantado na juventude. O mesmo físico retorcido, o mesmo temperamento, o mesmo talento de trapezista.

Em Mônaco, em 1981, a Ferrari 126C não valia grande coisa. Pironi, que era um grande piloto, tinha marcado em seu volante apenas o 17º tempo nos treinos. Villeneuve estava na outra ponta do grid, na primera fila. A distância entre os dois homens: 2,5 segundos... Naquele dia, nenhum piloto conseguiria fazer vencer em Mônaco uma 126C que se desequilibrava a cada aceleração.

Exceto Villeneuve, que não tinha nada contra brincar de rodeio entre dois guard rails. Ele vivia como pilotava: no limite, sempre. Na pista, ele exauria sua Ferrari de tanto serviço, trazia-a de volta a Maranello com pneus gastos até o fim, caixas de câmbio agonizantes. E lá pegava uma nova. Raros foram aqueles que ousaram subir em seu helicóptero. Pois Gilles garantia que, um dia qualquer, desmentira a teoria que diz que é impossível fazer um looping de helicóptero...



A corda acabou se rompendo, e o trapezista caiu. Gilles Villeneuve nunca foi campeão mundial. Pouco importa. Na memória da Fórmula 1 ele está bem mais na frente.

3 comentários:

Marcos - Blog da GGOO disse...

Sempre fui, e continuo sendo, grande fã desse louco.
Poucos pilotaram como ele na categoria.
Faltou um merecido campeonato pra ele, mas nem por isso, ele é menos lembrado.
Aliás, é mais lembrado e mais idolatrado que muitos que ganharam....

Igor * @fizomeu disse...

sobre gilles, só uma palavra basta... GENIAL!!!

Douglas disse...

Linda retrospectiva... Me sinto um "nada" por nao ter visto essa lenda pilotar ao vivo... Obrigada amigão por nos mostrar a história dessa fera da velocidade... E tenho algo a dizer... Suas colunas servem de modelo e inspiração para as minhas, vc é o cara Roque hehehehe... ABRAÇÃO...