quarta-feira, 6 de junho de 2012

RETORNO DE SCHUMACHER NÃO É UM FRACASSO*

* Por Edd Straw - do Autosport.com

Volta 58 do GP de Mônaco. Michael Schumacher está na liderança, a qual manteve desde a largada, quando arrancou bem e confirmou sua 69ª pole position da carreira. Ele está a apenas 20 voltas de alcançar o recorde de seis vitórias nas ruas do Principado, pertencente a Ayrton Senna. Aos 43 anos, o alemão finalmente celebrará seu 92º triunfo, recebendo um troféu que comprovará que, sim, ele ainda pode competir em alto nível naquela que o próprio chama de "sua segunda carreira".

Nessa volta, Schumacher alerta a cúpula da Mercedes via rádio sobre um problema mecânico. Algumas voltas depois, incapaz de sustentar a ponta, Schumacher entra nos boxes, fazendo com que Ross Brawn e Norbert Haug sejam bombardeados com questões sobre como a equipe pôde impedir o heptacampeão de fazer história de novo.

Foi culpa do próprio Schumacher ele não estar em situação de liderar o GP de Mônaco. As cinco posições no grid que tomou por ter acertado Bruno Senna durante a etapa da Espanha foram bem merecidas. E, como seu abandono foi no sétimo lugar e não no primeiro, aqueles que tanto o criticaram não precisaram rever seus conceitos. Não estou dizendo que Schumacher venceria com certeza em Monte Carlo, mas ele poderia tê-lo feito. Isso é o suficiente para levantar a questão.

Não há dúvidas de que Schumacher não é tão bom quanto já foi. Já não dá mais para construir outro argumento que não o coloque como um mero segundo piloto da Mercedes, visto que Nico Rosberg conquistou definitivamente uma ampla vantagem. Só que quando Michael retornou, em 2010, voltou falando em conquistar um oitavo título, o que criou expectativas irreais.

O alemão falhou em sua meta, mas, ao mesmo tempo, conseguiu regressar depois dos 40 e competir em um nível decente. E a palavra "decente" é o adjetivo exato para descrever Schumacher como piloto hoje. Em termos de desempenho, ele não é mais uma superestrela e talvez outros teriam capacidade de fazer um trabalho melhor em seu lugar. Mas muitos também fariam pior.

Durante o ano passado, a atuação de Schumacher em algumas corridas chegou a insinuar que ele poderia vencer corridas no carro certo e o que aconteceu recentemente em Mônaco comprovou a tese.

Se isso é verdade, também é fato que ele tem somente dois pontos em 2012, enquanto seu companheiro já chegou à marca de 59. Tal discrepância fornece por si só bastante lenha para que os críticos mais ferrenhos classifiquem a "versão 2.0" de Schumi como um fracasso.

Agora leve em conta a quebra de câmbio na Austrália quando o heptacampeão estava em terceiro, o erro de pitstop que custou suas grandes chances de pódio em Xangai e a falha na asa móvel que o levou a ser eliminado no Q1 no Bahrein. Acrescente a isso o fato de que, sem a penalidade na Espanha e com uma pilotagem regular em Mônaco, ele teria marcado 25 pontos. Fica claro que Schumacher não é o único culpado por essa disparidade.

Há muitas variáveis a se levar em conta se quisermos fazer uma contagem acurada de quantos pontos Schumacher poderia ter em 2012, mas não seria irracional colocá-lo na casa dos 50. Michael ainda ficaria atrás de Rosberg e não maximizaria o potencial do carro, mas já seria algo longe de um desastre. Quer um exemplo de um retorno de aposentadoria catastrófico? Veja o caso da lenda do tênis Bjorn Borg, que não venceu uma partida, mesmo contra os adversários mais fáceis, de 1991 a 1993. Seria o equivalente a Schumacher não ter marcado um ponto sequer nesses dois anos e meio.

Porém, existe uma certa ironia no fato de que Schumacher só não voltou a provar o gosto da glória em Monte Carlo por causa de mais uma besteira sua cometida durante disputa por posição, algo que já virou característico desde seu regresso. Michael insiste em dizer que não se envolve em enroscos mais do que a média dos demais competidores, mas é difícil lembrar de outro piloto que tenha estado envolvido tantas confusões no meio do pelotão (ressalva feita talvez à versão 2011 de Lewis Hamilton). Uma explicação para isso seria que Schumacher perdia tão pouco tempo em disputas roda-com-roda durante sua carreira prévia na F1 que nunca precisou trabalhar nessa habilidade. Talvez haja um fundo de verdade nisso, mas também é inegável que a categoria mudou muito nos últimos anos.

Quando Schumi saiu, no fim de 2006, ele competia em um esporte pautado pela guerra entre fabricantes de pneus, pela maior disparidade entre as equipes e pelo reabastecimento. Quando voltou, em 2010, o fim do reabastecimento provocara o fim das "voltas de classificação" antes dos pitstops. Além disso, veio um ano depois a borracha altamente degradante da Pirelli.

Se já era um desafio e tanto de adaptação para quem permaneceu correndo ininterruptamente, imagine para alguém na posição de Schumacher. Some a isso os resquícios causados pelo tempo, as três temporadas sabáticas que enferrujaram suas habilidades e a chegada de uma nova geração de superestrelas do calibre de Hamilton, Robert Kubica e Sebastian Vettel. Dá para ter a exata noção do quão grande era o desafio.

Nesse quesito, voltam as comparações com Borg. O sueco cancelou a aposentadoria para jogar com sua raquete de madeira contra os novos e modernos modelos de grafite. Schumacher, por sua vez, retornou a um esporte também modificado, porém não tanto quanto o cenário do tênis para Borg.

Infelizmente, no esporte, julgamentos são quase sempre incisivos e não há muita margem para rodeios. As pessoas questionam regularmente a decisão de Schumacher em voltar à ativa e continuarão a fazê-lo. A questão é: julgue Schumacher pelo que ele tem feito, não pelo que você espera que o "velho" Schumacher faria.

Aos 43 anos, ele ainda é um piloto competitivo, que foi capaz de marcar uma pole position em Mônaco e poderia, quem sabe, ter vencido a corrida. É muito mais do que a maioria dos pilotos que passaram pela categoria teria alcançado em seu auge.

Seu retorno agregou muito à F1 e, mesmo que ele nunca mais venha a ter chances de vencer, o que é bem possível, ele sempre terá na memória aquilo que aconteceu na tarde de sábado em Monte Carlo, um monumento de comprovação de que ele ainda pode, nos dias atuais, reverter a passagem dos anos. Um desempenho isolado não forma uma segunda carreira, mas Michael está longe de ser apenas aquele piloto medíocre que só é capaz de mostrar alguma coisa se tudo lhe der certo.

E se, após quatro décadas de vida, ele é "só" um piloto decente, não há vergonha nisso. Seu retorno não foi um triunfo, mas também não foi um fracasso abjeto. Na verdade, é algo posicionado no meio dessas duas extremidades. Aqueles que veem a F1 por uma perspectiva colorida, e não apenas com uma visão simples em preto e branco, conseguem enxergar isso.


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