terça-feira, 17 de julho de 2012

Galvão lamenta fim do autódromo carioca *

* Por Galvão Bueno 

Em texto especial, narrador da TV Globo questiona: 'Será que para construir nova história é preciso destruir outra?'  

Uma prova muito especial e carregada de emoções, essa da Stock Car neste domingo, em Jacarepaguá, no autódromo Nelson Piquet. Legal a vitória de Allam Khodair, o japinha voador, de quem eu gosto muito. Mas bom mesmo foi o pai ver Popó Bueno voltar aos pontos "carregando" um carro complicado e, principalmente, curtir uma reação fulminante de Cacá Bueno, largando em 30º e protagonizando grandes duelos até chegar em oitavo e assumir a ponta do campeonato.

Mas Jacarepaguá, hoje, foi muito mais que uma simples corrida. Desde sábado, quando Cacá marcou a pole, depois cancelada, não esqueço das declarações dele, carregadas de sentimento. A foto a que ele se refere como a primeira dele em um autódromo, ao lado de Ayrton Senna, claro que me lembro bem. Fui eu quem a bateu. Ele tinha sete anos, e o levei para ver os testes de pneus da Fórmula 1. Lembro-me como os olhos dele brilharam, mas duvido que ali ele pudesse imaginar que seria hoje quem é. 

Um grande piloto e um grande ser humano, capaz de, com poucas palavras, definir tão bem e de forma tão corajosa o que todos nós sentimos hoje. Ele me fez viajar no tempo e me lembrar como ele, Cacá, e o irmão Popó foram criados. Como ele mesmo disse, ali atrás da Curva Sul, a das grandes ultrapassagens na Fórmula 1, no Kartódromo de Jacarepaguá que um dia alguém resolveu destruir. Fez-me lembrar como a mãe deles, Lúcia, e eu os levávamos e por eles torcíamos com os corações quase parando. Fez-me lembrar muito mais. Como eles começaram com os carros naquele santo asfalto. 

Como em 2000, quando em um domingo chuvoso, o Popó, com uma corrida de antecipação, virava campeão brasileiro, vencendo na Fórmula Chevrolet, a principal categoria de monopostos do país. Fez-me lembrar de uma façanha histórica de Cacá, já nem me lembro o ano, quando ele, ainda na Stock Ligth, que corria junto com os Stock Cars, venceu e bateu os grandes Ingo Hoffman, Paulo Gomes e Chico Serra. Ou então quando eu transmiti uma única vez uma vitória dele na Stock. Era dia dos pais, imaginem, e o carro dele trazia na grade dianteira a frase: "Feliz dia dos pais". 

Fiquei tão contido que o Reginaldo Leme, muito mais empolgado que eu, parecia o verdadeiro pai. Também foi lá que fiz meu primeiro Grande Premio do Brasil na Rede Globo, em 1982, e a estreia de Senna na Fórmula 1, em 1984. As vitórias de Alan Prost, o Rei do Rio, e a incrível dobradinha de Nelson Piquet e Ayrton Senna. Tudo isso em Jacarepaguá. Agora vejo como essa pista foi importante para a minha família. Imaginem, então, o que devem estar sentindo hoje os pais de família que tiram seu sustento do automobilismo carioca... 

Sei que a primeira parte destruída deu lugar a instalações do Pan, e agora tudo vai abaixo para instalações olímpicas. Mas pergunto: será que tinha que ser alí? Não poderia ser ao lado? Em qualquer outro lugar desta Cidade Maravilhosa? Será que para construir uma nova história é preciso destruir outra? Será que alguma autoridade política ou esportiva poderia me responder?

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