terça-feira, 28 de agosto de 2012

Falta de energia*

* Por Fábio Seixas


O diagnóstico é de um profissional de marketing esportivo de uma das maiores empresas internacionais do mercado: falta energia à F-1.

"Energia." Jargão do meio, mas que não é difícil de entender. Para estar em alta, gerar interesse e valer o dinheiro investido, um esporte ou evento precisa de energia.

Precisa de protagonistas fortes, com personalidades marcantes. De rivalidades. De espetáculos nas arenas. De boas histórias, dramas chorosos, alegrias contagiantes, destinos indefinidos. Das polêmicas resultantes deste mix.

O exemplo mais claro de como o conceito de energia funciona, explica o homem do marketing, está nas nossas caras todos os dias. O UFC.

E o contraponto, no entender de todo o mercado, é a F-1.

Não sou fã do primeiro, mas é preciso admitir que eles sabem trabalhar o conceito.

E a comparação que vem à cabeça leva a Las Vegas e a Suzuka --começa daí, palcos com energias bem diferentes. Mesmo não acompanhando UFC, lembro daquela entrevista coletiva no ano passado, em que Anderson Silva chegou de máscara para encarar Vitor Belfort. A imagem ganhou o mundo, aumentou a expectativa para o evento. Ali, a luta ganhou energia.

Daí lembro de Suzuka, em 2000. Entrevista na sexta-feira pré-GP, numa sala espartana do circuito, sem brilho. Lado a lado, Hakkinen, defensor do título, e Schumacher, prestes a encerrar a fila de conquistas da principal equipe da categoria.

Não houve nada. Nada além de declarações insossas, provavelmente redigidas por suas assessorias de imprensa. Energia zero.

Hakkinen e Schumacher não precisariam chegar ao ponto de se encarar, é claro. E o caso citado aqui é só exemplo. A culpa não é deles.

Na sanha para profissionalizar a F-1, nos anos 80, Ecclestone também a higienizou. O retrato disso eram os caminhões de sua TV digital, estacionados lado a lado nos circuitos, na ordem crescente dos números das placas.

Enquanto isso, expulsou os penetras e as popsies --modelos bancadas por patrocinadores dos times-- e deixou lugares como Paul Ricard e Estoril para correr na Malásia e na Coreia do Sul. A F-1 sem dúvida ficou mais organizada e lucrativa. Mas perdeu toda aquela divertida e sedutora energia que tinha.

Faltam, também, bons personagens. Alguém como Rossi, que acaba de recusar € 18 milhões da Ducati para ganhar € 4 milhões da Yamaha --mas com uma moto que lhe dará chances de vencer. "A MotoGP toda está do seu lado. A categoria precisava de uma chacoalhada", disse Capirossi, um ex-rival.

Resumindo, Rossi vai devolver energia ao esporte.

Quem fará o mesmo na F-1, uma categoria que comete férias no meio da temporada?

Está difícil, bem difícil...

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