sexta-feira, 17 de maio de 2013

Nem tudo está perdido*

* Por Luiz Razia


Algum tempo já passou depois do que aconteceu com a Marussia. No primeiro momento, não tinha dado conta que estava perdendo tudo aquilo que tinha construído, e, em alguns momentos de esperança, pensei que poderia resolver a situação de imediato com as alternativas que tinha naquela época. Talvez muitos não conseguiriam notar o quão extasiado estava por ter conseguido o tao desejado "sonho", digamos assim. Como uma pessoa de muita fé, agradecia todos os dias pela chance e por tudo que vinha acontecendo comigo naquele começo de ano. Estava nas nuvens, tinha completado um ano fantástico na GP2, minha moral estava alta e havia conseguido a vaga que tantos queriam. No meu lugar tudo parecia realmente muito perfeito.

Depois de tudo o que aconteceu, passei por um fase engraçada em minha vida: vi que um objetivo na nossa cabeça pode nos motivar a fazer qualquer coisa para alcançá-lo. Neste momento, com minha meta ainda não definida, tenho encontrado dificuldades para manter a motivação todos os dias. Sem trazer muitas novidades, também descobri que um piloto sem dinheiro é a mesma coisa que tentar conseguir emprego sendo analfabeto e, por muitas vezes, a primeira pergunta no telefone é: "Quanto você tem para gastar?". Deprimente. Outra coisa engraçada é as pessoas ao seu redor. Elas simplesmente desaparecem e perdem o interesse por você. Isso já era claro, mas não tao óbvio assim.

Pela primeira vez na minha vida, tive de pensar em um "plano B" (coisa que nunca fiz) e reconsiderar algumas coisas para o futuro, já que dinheiro é o primeiro passo para conseguir algo no automobilismo hoje em dia. Acredito em uma coisa: existe muita coisa errada em vários esportes, não apenas no automobilismo. Ou seja, se quiser fazer algo profissionalmente, será preciso investir novamente tudo aquilo que investiu para chegar na Formula 1, o que deixa qualquer um sem opções.

Para dar uma ideia melhor para vocês, até agora tenho somente me esforçado bastante para não ficar reclamando do que passou e me lamentando. Tenho me esforçado para seguir em frente e dar a volta por cima, seja ela onde for o resultado e mostrar pra mim mesmo que vale a pena ser piloto pelo simples motivo de fazer aquilo que amamos, que é estar dentro de um carro de corrida. Minha motivação para conseguir uma alternativa é sempre alta, mas um tanto parecida com montanha russa. Talvez seja compreensível, até porque não é fácil passar por uma situação dessas.

Muitos vieram falar comigo para consolar que foi melhor assim, até porque a equipe era muito fraca, mas não sabem o que dizem. Logo após a minha saída outro piloto entrou no meu lugar e agora muitos já falam bem dele - talvez por ele não brasileiro, já que a moda é meter o verbo nos brasucas, coisa que não entendo. Percebi que não foi melhor a partir do momento que fiquei sem objetivos, andando de GT, coisa que para alguns pode parecer muito legal, mas para ser sincero, o carro é muito lento e não se compara o que se sente dentro de um formula. Para fechar o quadro, o nível de envolvimento com uma equipe de Formula 1, talvez não se compara com nenhuma equipe em qualquer outra categoria, com mais de 200 pessoas trabalhando para dois carros, um número enorme de engenheiros, tecnologia, e por ai vai.

Mas é bom deixar bem claro para vocês, queridos leitores, que, apesar de dividir com vocês o que realmente esta passando ou passou, também estou em constante processo de trabalho e aprendizado na vida. Apesar desta opção não ter dado certo, não vou desistir. Queria explorar este lado que estamos passando e mostrar que as coisas não são tão simples e nem sempre vão de acordo com nossos planos. Mas saber reagir a coisas assim é fundamental. Sinceramente, aprendi muito com essa situação e posso dizer que me encontrei em situações nas quais somente eu acharia a resposta, e partir dela encontro motivação para fazer varias outras coisas. Nem tudo esta perdido, como dizem alguns, só acaba quando acaba.

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