sexta-feira, 2 de maio de 2014

SENNA ESPECIAL: "Valeu Senna!"

* Por Ricardo Lellis

Esta edição GGOO News é especial. Nela, você voltará ao passado. Um passado de glórias, emoções , Vitórias Inesquecíveis. E, são estas lembranças que tenho de Senna. Até hoje, vejo e revejo as corridas. Mas, hoje, nesta coluna, vou fazer algo diferente. Como se fosse uma homenagem, vou voltar a 20 anos atrás e compartilhar com vocês o que foi, para mim, o momento mais triste da F1. O que vivi, o que senti. Como uma conversa entre amigos, onde dividimos todos estes sentimentos. 

Sábado 30/04/1994 

Naquela noite, como de costume, ia sempre ao Stravaganzza, uma casa noturna em Pinheiros, São Paulo. Lá, junto com os meus amigos, costumava curtir a noite . O DJ, um amigo meu, o Marcelo Barres ( que hoje toca nas festas da 97 FM), era tão apaixonado pela F1 , que dois sábados antes, parou a música, no meio da madrugada, para passar no telão a largada do GP do Pacífico(Circuito de Aida, no Japão, onde Senna ficou na primeira curva, após a batida de Hakkinen). Na época, era costume nosso, amantes da F1, arrumar um jeito de assistir ás corridas de madrugada, enquanto se divertia. E, nas rodas de conversa, sempre surgia o acidente fatídico de Ratzemberger, da Simtek, ocorrido nos treinos para a corrida. Assim, foi-se a noite e mais um domingo amanhecia, 

Domingo, 01/05/1994 

Naquela manhã, eu não voltei para a casa. Levei, de carona, dois amigos ás suas respectivas residências. Havia saído somente depois das 07:00 h do Stravaganzza. E entre um papo e outro, não me lembrei da corrida... 

Após deixa-los, resolvi procurar um lugar para tomar um café. O rádio sintonizava a Jovem Pan 2 FM e as músicas eurodance que eram febre na época. De repente uma lembrança: “- A corrida!!!”, mas aí começava outra música legal e eu esperava para mudar a estação. Resolvi ir até a Av. Paulista para tomar o café. Deixei o carro no estacionamento. Os funcionários ouviam atentamente um rádio. Era a corrida!! . Pensei em aproveitar que a lanchonete podia ter uma televisão e ia assistir ! Ledo engano. A lanchonete não tinha TV. Após o café, voltei ao estacionamento. Ao passar pela guarita dos funcionários, tentei prestar a atenção no rádio. E ouvi a palavra “acidente”... 

Parecia que algo me fazia esquecer da corrida.... Logo eu? que não perdia nenhuma? E, diferente da maioria das pessoas, eu não estava na sala de casa, ouvindo o Galvão. E, mesmo assim, “dava um branco”.. Como assim, esquecer da corrida ? Nunca fui assim ! Pois bem, ainda demorei um pouco de tempo, após sair do estacionamento para lembrar. E quando comecei a ouvir a narração do Nilson Cesar ( Jovem Pan 1 AM), que narrava as corridas, naquela época ( hoje, ele é o narrador titular da Rádio e quem acompanha a F1 é o Felipe Motta), comecei a me dar conta do que estava acontecendo. No começo pensei naqueles acidentes normais, de corrida. Mas, a cada fala, percebi que era algo mais grave do que eu pensava. 

A corrida acabou. Shumacher venceu. Neste momento já me dirigia para casa. A angustia começava a tomar conta. No rádio, Nilson Cesar, Claudio Carsughi e Milton Neves falavam. Ninguem queria acreditar. Os comentários sempre recheados de esperança. De que tudo ia dar certo. Que ele ia sair dessa. Era a nossa torcida e nosso pensamento. 

Cheguei em casa. Não saí do carro. Não conseguia tirar a atenção do rádio. E, veio o anúncio da morte cerebral. Triste. Milton Neves e Nilson Cesar, como todos nós, entoaram discursos otimistas. Na verdade, não queríamos o pior, não queríamos acreditar no pior. Aí entra a frieza europeia de Carsughi: “- Senna está praticamente morto”. Milton Neves chora no ar. Eu, entrei em casa chorando também. Triste, fui me preparar para ir ao Morumbi. S.Paulo x Palmeiras. Eu já tinha ingresso. Mas, tinha perdido a vontade de ir. Mas, como se quisesse espantar a tristeza, fui ao Estádio. 

Não vi e nem ouvi o anúncio oficial da morte. No caminho que levava ao estádio, um Palmeirense grita : “- Senna morreu! Acabou a F1”!! E, mais uma vez, eu não acreditei. Não queria acreditar! Só me dei conta, na homenagem, no minuto de silêncio no jogo. Duas torcidas, juntas, cantando o nome do Senna, em uma só voz. Parecia pesadelo. 

Segunda-feira, 02/05/1994 

Na segunda-feira, todos com rostos cobertos de tristeza. As notícias corriam. No rádio, na TV. Por que tinha que acontecer isso? Olha,eu não sei. A única certeza é, que, até hoje, foi o fim de semana mais triste da F1. 

Quarta-feira, 04/051994 

Resolvi prestar minha última homenagem. Eu, que o tinha visto em Interlagos, do antigo setor C, aquela vitória magnifica de 1993, precisava dar o adeus. Em companhia de duas amigas do Colégio, me dirigi ao Ibirapuera, para a Assembléia Legislativa de São Paulo, onde se realizava o velório. 

Chegando lá, a fila era enome. Para quem conhece o local, para ter uma idéia, o final da fila estava no Ginásio do Ibirapuera. Eram 18:30h da quarta. E eu só sairia dali, após prestar minha homenagem. Pouco importava o tamanho da fila e quantas horas ficaria ali. Na nossa frente, uma garota, com um quadro enorme de Senna, perguntava o porque disso tudo estar acontecendo. Imprensa do mundo todo estava lá. Espanha, França, Alemanha, Argentina, Itália. Em um dado momento, uma câmera da TV Italiana foi ligada e o povo entoou o nome de Senna. Me lembro bem quando o repórter indagou uma garota “- Mas vocês não estão tristes? Estão cantando ?” A garota responde : ‘- É a dor. Isto é apenas o que nos resta fazer”. 

Triste demais. Chegando na rampa da Assembléia, vi dezenas, centenas, milhares de coroas de flores, cartas, cartazes. Clubes de Automobilismo, de carros, pessoas anônimas, fãs. Todos querendo demonstrar o carinho pelo ídolo. Foi lindo ver isso, foi emocionante. Tanto que, como num impulso ,resolvi deixar ali, a bandeira do Brasil que eu carregava nas mãos. 

Adentrei ao saguão da Assembléia, ás 23:00h. Sem palavras. Só queria agradecê-lo. Os seguranças não deixavam as pessoas pararem. O caixão, com o capacete amarelo em cima, estava logo no começo do salão. Portanto, eram poucos segundos em que a sua visão alcançava. Mas,eu não me contentei com poucos segundos. Ao passar por ele, a cada passo, eu olhava para trás. Foi assim até o final. Na saída, já na escada, antes da porta, parei e olhei novamente. E, foi neste momento, que percebi que a alegria se foi. Que os domingos não seriam mais os mesmos. Que tudo tinha acabado. Tudo que eu não quis acreditar, veio á tona. Aquela maldita porta significava o fim de tudo .Minhas amigas estavam aos prantos. Deixamos o salão abraçados. 

Era como se tudo tivesse mudado. Tudo o que vivi naqueles dias : a manhã de domingo, o choro do Milton Neves, as torcidas no Estádio cantando o nome do Senna, as homenagens na TV, as notícias no rádio, pareciam ser apenas um pesadelo. 

Mas, não era. Confesso á vocês que só tive a coragem de rever a corrida, com a narração do Galvão, anos depois. 

Mas, o que me orgulha e que vou levar para o resto da vida, é ter tido a oportunidade de ter vivenciado esta época. Te ter visto o aparecimento em Monaco – 1984, com a Toleman. A primeira vitória em Estoril, em 1985. O título de 1988. A corridaça no GP Japão de 1989, apesar da canetada do Balestre, os títulos de 1990 e 1991. As corridas na chuva, a primeira volta de Donninghton Park , em 1993, e as vitórias em Interlagos. Eu, só tenho que agradecê-lo. Por ter me dado esta alegria. De poder falar que vi um dos melhores da história. 

Valeu Senna!

Um comentário:

Rodrigo Cabral disse...

Sensação de perder um irmão, um parente! alguém bem próximo de Ti.
Sinto falta dele! É muita tristeza!